23 de dez. de 2010

Capítulo X

Tanto queria que o fez. Foi um beijo longo e ardente, iluminado pelos primeiros raios de sol. Suas faces avermelhadas pela aurora que pintava o mar de cores quentes deixavam a cena com um aspecto erótico, acentuado pela neblina de começo de manhã. O beijo parecia ter durado décadas, até séculos, mas na realidade não passou de um minuto. 

- O minuto mais feliz da minha vida - disse o Sr. Smith.

Clóvis Constantino, atordoado por toda a emoção injetada em suas veias dilatadas pelo calor do momento, caiu ao lado do Sr. Smith, no capô, em silêncio. Apreciando a bela vista à sua frente, pensava em Cassandra Cacilda. Onde ela estaria agora? Será que está bem? Será que sente sua falta? Clóvis sentia falta de Cassandra Cacilda, de seu corpo de mulher, de sua pele branca e macia, seu cheiro de fêmea indefesa, seus cabelos tingidos jogados timidamente sobre seu rosto. O jeito como ela respirava... Oh, adorava vê-la dormindo, observar sua leve respiração. Beijá-la segurando-a pela cintura era sua maior felicidade. Mas ele acabara de beijar o Sr. Smith! Como pêde atrever-se a pensar em Cassandra Cacilda tendo ao seu lado aquele negro de pernas e braços fortes, cabelos raspados e lábios volumosos, que agora, entreabertos, deixavam escapar o ar que entrava com força em seus pulmões tamanho o êxtase em que se encontrava?

Cassandra Cacilda! Clóvis Constantino precisava encontrá-la, dizer-lhe o quanto a ama. Levantou-se e ordenou que Sr. Smith entrasse no carro. Entraram e partiram. Clóvis Constantino pisava no acelerador e mandava que Sr. Smith calasse-se sempre que este tentava dizer-lhe o quanto o beijo fora incrível. Chegando na casa de Sr.Smith:

- Saia do carro - ordenou Clóvis Constantino.
- Mas por quê?
- Apenas saia!

Sr. Smith saiu com o rabo entre as pernas, não entendendo a frieza que agora instalara-se nos olhos lindos e profundos de Clóvis Constantino. Ao fechar a porta do carro, Clóvis arrancou estrada adentro, sem despedir-se, sem dar-lhe esperanças de um próximo encontro. 

Chegando na cidade, parou em uma Wal-Mart. Tinha planos para Cassandra Cacilda, e efetuaria-os esta noite. Entrou e foi direto para a banca de bijuterias. 

- Um anel. Rosa! Com pedras rosas- pediu à moça que o atendia com cara de sono. 
- Tenho somente este - disse ela, mostrando um anel folheado com ouro e incrustado com uma pedra de vidro rosa barato. 
- Quero este mesmo.
- 27,99 reais, mais alguma coisa?
- Esse pote de lubrificante aí.

Pegou suas compras e foi para o carro. Queria encontrar Cassandra Cacilda o mais rápido possível, tinha saudades de sua fêmea insaciável. Mas tinha fome. Não fome de Cassandra Cacilda, mas fome física, que fazia seu estômago roncar em um gutural sinistro. Decidiu parar em um McDonalds no caminho.

Após comer, foi para seu apartamento. Precisava organizar suas idéias, tomar um banho e descansar. 

22 de out. de 2010

Capítulo IX

- Não sei. Não posso dizer nada. Eu... Eu... Ainda amo a Cassandra Cacilda. Por mais irado que eu tenha ficado depois de tê-la visto dançando noite passada sobre a mesa, ela ainda mexe comigo. É algo que eu não consigo mudar - Clóvis estava prestes a chorar, as lágrimas brotavam em seus olhos, sua visão estava ficando turva de medo e ódio.
- Clóvis, não faça isso comigo. Por favor, em nome dos velhos tempos. Deixa-me tirar a dor que paira sobre seu coração jovem. Eu sei que você também quer porque você quer esquecer aquela bitch-boca-de-truta. E você sabe que amo-te e sou a única pessoa capaz de tirar isso de você - Sr. Smith estava implorando quase de joelhos para que Clóvis Constantino aceitasse seu amor novamente.

Diante disso, Clóvis Constantino levantou-se da cama, menos molenga e fracote, foi à cozinha e bebeu água. Seu corpo estava desidratando com as lágrimas que queriam cair de seus olhos e, também, suando o medo que sua mente - e coração - exercia sobre seus pensamentos em relação ao Sr. Smith. Este, por sua vez, seguia o rastro de Clóvis, para ver se não fugia de sua mira.

- Clóvis, já sabes se ainda me quer? Você também sabe que eu moveria o mundo para ficar com você, perto do seu calor, do seu abraço forte, do seu cheiro de macho alfa, dos seus lábios macios como a neblina de inverno - Sr. Smith estava tendo arrepios enquanto lembrava dos melhores momentos de sua vida multi-colorida.

Ao terminar de beber a água do copo, Clóvis Constantino deposita o mesmo na cuba da pia e vira-se para Sr. Smith, fixando-o com seus olhos.

- Sr. Smith, já disse que não sei! Até agora todo mundo me jogou contra a parede, e sempre chamaram-me de lagartixa. Agora está na minha vez de fazer isso - Clóvis Constantino bebeu confiança, em vez de um copo d'água. Espere-me aqui, já volto.

Sr. Smith ficou apreenssivo, com medo do que Clóvis poderia estar tramando, mas ficou no lugar indicado por seu pedaço de mau caminho. Passaram-se 10, 15, 20 minutos até que, de repente, Clóvis aparece todo emperequetado, cheiroso e deus grego.

- Quero levar-te a um lugar muito especial para mim, Sr. Smith - Clóvis Constantino puxou seu patrão pelo braço, pegando a chave do carro dele.

Eles foram andando sem destino, aparentemente. Clóvis Constantino dirigia sem medo, parecia mais que era o carro indo pelas ruas por conta própria. O silêncio mórbido e assustador que se fazia dentro do carro foi quebrado no momento em que Sr. Smith ligou o rádio na Blowing Heart, com a música Alejandro da Lady GaGa. "Eu estou com meu Alejandro, nem que seja só sentado ao seu lado", pensou Sr. Smith. Mas ele sabia que não poderia falar nada, Clóvis Constantino tornou-se imprevisível e perigoso, e era exatamente isso que Sr. Smith queria despertar nele.

- Vejo que ainda não mudou seu gosto musical. Ainda ouve Celine Dion e Laura Pausini?
- Não mais, as de agora são melhores. Gosto da GaGa e da Britney, elas são mais ousadas - Sr. Smith observou Clóvis pelo canto dos olhos.
- Vejo também que não mudou seus modos - Clóvis fitava a estrada semi escura, pois já era quase a hora do sol nascer.
- Não mudo porque eu sei que é disso que você gosta Clóvis. Desde a época do ensino médio, quanto nos tornamos mais chegados, que eu percebi sua tara por bundas e pernas firmes. Notei isso quando você tentou apertar minha panturrilha. E como se não bastasse, tentou mordê-la.
- Aquilo foi sem pensar. Quando me dei conta, vi que estava embaixo de sua cadeira e o pessoal ao redor ficou me olhando. Não esqueço-me disso - Clóvis ficou emcabulado.
- Sei.

Então o silêncio voltou, mas nem fazia mal. Eles já haviam chegado ao lugar de destino: um penhasco que dava conntra o mar e, ao fundo, o sol dava tons laranja-avermelhado ao mar. Aquilo encheu os olhos de Sr. Smith. Ficou encantado com tamanha beleza.

- Sabia que iria gostar. É um dos meus lugares favoritos. Venho aqui para relaxar e tirar as mágoas do coração.
- Você é sábio em suas escolhas Clóvis, por isso sempre gostei de você e de seu jeito.

Os dois saíram do carro, ainda com o rádio ligado, mas agora tocando Hush Hush das Pussycat Dolls. Sr. Smith encostou-se na dianteira do carro ainda maravilhado com a paisagem que se formava em seus olhos. Ele, por um momento, até esqueceu que amava Clóvis Constantino, mas este deu um gancho por trás em seu pescoço e jogou-o contra o capô do Camaro 2SS V8 e deu um beijo profundo em Sr. Smith. Clóvis não sabia o por quê de ter feito isso, mas sabia que tinha de fazê-lo.

3 de out. de 2010

Capítulo VIII

Enquanto Cassandra Cacilda dançava entre aqueles belos machos de coxas duras e torneadas, Clóvis Constantino corria e chorava. Por que aquela vadia faz isso com ele? Por que ela gosta tanto de mexer com seus sentimentos?

Clóvis Constantino sentia-se uma bichinha enrustida, mas a tristeza que ele sentia pesava muito em seu coração. Seu coração agora tão ferido, sangrando nas mãos daquela puta má. Mas ele não podia deixar-se vencer, não podia sucumbir aos desencantos do amor. Não, não agora que sua carreira começava a progredir. Entrou em seu Audi R8 5.2 FSI preto engolindo o soluço e retendo as lágrimas.

A tristeza deu lugar ao ódio. Então Clóvis Constantino agarrou o volante, deixando os nós de seus dedos brancos. Ligou o som na rádio local. A música que tocava o levou aos seus velhos e áureos, tempos esses em que nada o abalava: 

A música mexeu com ele. Sentia falta de emoção. Emoção positiva. Adrenalina. Sentindo-se um personagem de Velozes e Furiosos, pisou com toda a sua força no acelerador. A rua estava fria e deserta, e agora era invadida pelas luzes azuis de seu carro. Clóvis Constantino não sabia para onde ir, apenas deixava-se ser guiado pelas placas amarelas ao longo da estrada. Agora mais calmo, observava a paisagem passar rapidamente pelos vidros de seu carro quando, de repente, avista algo no meio da estrada. Um carro! Ele freia. Mas não a tempo de impedir que os carros choquem-se.

Seus olhos fechavam-se com sua vontade, ele sentia-se leve, caindo. O que parecia horas era, na verdade, segundos. Clóvis Constantino estava bem, já seu carro não. Abriu a porta deste e saiu. O cenário em que encontrou-se era assustador: árvores retorcidas e nuas tinham as raízes cobertas pela névoa densa e assustadoramente imóvel. Podia ouvir animais correndo sobre as folhas secas da floresta e pássaros pousando nos galhos secos para acompanhar sua desgraça. Viu-se sozinho e quase cagando em seu shortinho de ginástica.

Suava frio, sua pele estava branca e gelada e suas pupilas dilatadas. Queria sair dali. Então avistou uma sombra alta e corpulenta mexendo-se entre as árvores. Uma figura negra vindo em sua direção. Agachou-se com os braços sobre a cabeça, cerrando os olhos e torcendo para que tudo aquilo fosse uma visão.

- Você está bem? - perguntou a voz grave e rouca, estranhamente familiar. Está tudo bem, não vou te machucar.

Clóvis Constantino reuniu toda a sua coragem, desarmou-se de seus braços e encarou o homem à sua frente.

- Sr. Smith? O que faz aqui? - gritou Clóvis Constantino com uma voz fina e levemente abafada, misturando espanto e alívio.
- Estava apenas correndo, gosto deste lugar.
- Não está um pouco escuro para isso? E... com essa... roupa?

Clóvis Constantino, agora já de pé, olhava com estranheza as vestes de seu chefe: uma camisa amarelo-neon da Nike, um short de lycra branco e um tênis branco absurdamente feminino. Além de uma faixa rosa na cabeça. Ah, esse é o verdadeiro Smith, pensava Clóvis Constantino.

- Bem, você me conhece... - respondeu Sr. Smith em tom de deboche. Você sempre me conheceu muito bem...

As narinas de Clóvis Constantino foram invadidas por um cheiro que o fez sentir-se estranho. Era um cheiro com notas másculas cavalares. Aquele cheiro... Seus olhos reviraram-se, sua pele arrepiou-se, seu pensamentos começavam a dar espaço a uma onda de... Ei, Clóvis, está tudo bem? - perguntava novamente Sr. Smith, pousando sua mão negra, grande e pesada nos ombros do rapaz.

- Ah, desculpe-me... Acho que estou cansado, só isso.
- Aconteceu alguma coisa?
- Como assim? Acabei de bater meu carro, até há pouco estava prestes a parir um ornitorrinco de tanto medo! É claro que aconteceu alguma coisa!
- Acalme-se, Clóvis. Está tudo bem agora - e Sr. Smith agora falava com uma voz suave enquanto trazia o corpo de Clóvis Constantino de encontro ao seu. Está tudo bem agora...

Clóvis não queria, mas entregou-se. Um mar de emoções formava-se em seu peito, estava abatido demais para resistir. Queria um abraço, apenas isso. Seus últimos dias foram difíceis desde que conheceu Cassandra Cacilda. Cassandra Cacilda, aquela meretriz ordinária! Não queria mais pensar nela. Queria apenas dormir.

- Olha, Sr. Smith, respeito muito o senhor, mas isto está ficando estranho - disse Clóvis recobrando a lucidez emocional.
- Não tenha medo, pequeno. Quero apenas que você acalme-se. Você está tremendo, e está muito gelado! Precisa de roupas quentes... Mas vejo que seu carro não está em condições de uso. Permite-me oferecer uma carona até a sua casa?
- Vejo que o senhor tem razão. Tudo bem, aceito a carona. Só não entendo com seu carro pode ter saído inteiro desse acidente.
- Ora, Clóvis, você é um amador - Sr. Smith disse-lhe rindo e dirigindo-se ao carro. Agora entre, amanhã veremos o que fazer com a sua lata.

Clóvis Constantino nem ouviu as palavras de Sr. Smith, apenas acomodou-se no bando do carona esperando chegar logo em casa.

Alguns minutos passaram até o Sr. Smith parar o carro em frente ao prédio de Clóvis Constantino.

- Bem, acho que é aqui.
- Muito obrigado, Sr. Smith - Clóvis Constantino respondeu enquanto saia do carro. Meio cambaleante, ainda tremendo por causa do susto.
- Vejo que você ainda não está muito bem... Acompanhar-te-ei até seu apartamento.
- Não é preciso, Sr. Smith, estou bem!
- Não é o que parece, meu amigo. Suas pernas estão bambas, irá cair e rolar as escadas como uma salsicha branca.

Sr. Smith saiu do carro e pegou Clóvis Constantino pela cintura e segurando um de seus braços, ajudando-o a andar e ignorando suas recusas.

Foram assim até o elevador. Agora mais estável, Clóvis Constantino disse que já pode ir sozinho até seu apartamento.

- Claro que não! Você ainda não me parece bem, faço questão de certificar-me de que você chegará em casa inteiro!

O elevador subia e os dois, em silêncio, observavam a vista. Um bipe anunciou a chegada ao andar de Clóvis Constantino.

- Cadê suas chaves? Deixar-te-ei deitado, você não está conseguindo andar.

Clóvis Constantino estava tão cansado que nem se deu ao trabalho de relutar, apenas entregou-lhe as chaves e fechou os olhos esperando sentir os lençóis macios de sua cama. Pôde ouvir a porta ser aberta, as luzes de sua sala serem acesas e, finalmente, seu corpo ser deitado em sua confortável cama. Abriu os olhos e viu que o Sr. Smith o observava. Sentiu algo estranho. Não sabia muito bem o que era, mas era forte. Medo, talvez.

- Muito obrigado novamente, Sr. Smith. Devo-lhe alguns favores, não é? - foi o que Clóvis Constantino conseguiu dizer. Sua voz estava fraca, e ele sentiu então a tristeza voltando. Mesmo assim, sorriu para o homem encostado na parede.
- Claro que não, rapaz. É um prazer ajudar meus funcionários. A não ser, é claro, que você queira ser algo além disso... - respondeu com uma voz sensual o Sr. Smith, empinando o queixo e encarando-o com uma poker face.

O silêncio tomou o quarto.

- Sabe, Clóvis Constantino. Eu vinha há algum tempo tentado reencontrá-lo. Sinto sua falta, você não sabe o quanto. Sonhava todas as noites com você, esperando poder sentir seu cheiro outra vez. Oh, Clóvis Constantino, você não pode imaginar a dor que senti ao te ver ao lado daquela mocréia com boca de truta. E vejo que você também sente minha falta, posso ver em seu olhar, Clóvis Constantino... Diga que sente minha falta, Clóvis Constantino, diga!

19 de set. de 2010

Capítulo VII

Clóvis Constantino chegou ao escritório Restart todo pomposo, voluptuoso e arrasante. Afinal, ele havia se emperequetado todo para seu primeiro dia naquele escritório, sendo o boy do café. A porta dianteira, de vidro fumê, abriu-se automaticamente, onde todos os que estavam no hall de entrada puderam ver: seus pelos másculos. Por onde Clóvis Constantino andava, deixava todos de queixos caídos. Ele passou pelo corredor estreito com paredes formando espirais coloridas e, ao final, ele passouno setor de fotocópias, onde a moça de sapatos camurça avermelhados, vestido pregado preto até os joelhos, camisa folgada branca e de gola volumosa e um coque nos seus cabelos louros.
Ela escaneou Clóvis de cima a baixo, dando ênfase aos seus pelos berrantes ao pé do pescoço.

Clóvis Constantino finalmente estava em um emprego digno, sem precisar da fortuna que seu pai deixou-lhe e, o mais gratificante, a faculdade de oceanografia. Tudo estava na mais perfeita harmonia, exceto uma coisa: nada de Cassandra Cacilda.

Cassadra acordou-se de seu sono profundo e angustiado, sonhando que havia perdido o amor de sua vida, a razão de seu viver, o pepino de sua salada. E que pepino... AH, os pensamentos libidinosos de novo. Aquilo não saía de sua cabeça, ia e voltava como flashes ininterruptos.
Enfim, Cassadra Cacilda queria tirar isso de sua cabeça, afinal, Clóvis Constantino não preocupou-se com ela desde aquela noite... E que noite...
De novo os pensamentos, pensou Cassandra Cacilda, dirigindo-se ao banheiro, pois ela queria lavar toda a crosta de sangue em sua cabeça e a água da chuva que deixou-a ensopada.

Clóvis Constantino fingiu não ter observado o olhar afogueado da moça, pois ele tinha compromisso com uma moça bem mais apetitosa: Cassadra Cacilda, a sua moreninha. Clóvis Constantino, após ter pego os relatórios, foi até a sala do Sr. Smith, para efetuar a entrega dos mesmos.

- Bom dia Clóvis Constantino! Como vão as coisas? - perguntou Sr. Smith, com toda sua inocência.
- Bom dia Sr. Smith, tudo vai bem. E com o Sr.?
- Poderia estar tudo melhor, se você estivesse aqui... Ao meu lado...
- Não - as lembranças vindo à tona, deixando Clóvis Contantino fraco e atônito - Tenho uma namorada, e não posso traí-la.
- Mas Clóvis...
- Não, preciso voltar ao trabalho - Clóvis Contantino deixou a sala, aliviado e pensando na sua amada Cassadra Cacilda.

Ela saiu do banho, enxugando seus divos cabelos e chacoalhando-os de um lado para o outro. Depois, ela começou a enxugar os pés e, vagarosamente, foi levando a toalha para a panturrilha... Ela estava glamurosa depois do banho com sabonete Palmolive e shampoo Monange. Cheirava a cabela e laranja, preferidos de Clóvis Constantino.
Cassadra terminou de enxugar-se e saiu do banheiro enleada na toalha. Passou pela cozinha e, chagando na sala, viu que havia um bilhete ali. Era de Clóvis. Cassadra Cacilda rapidamente abriu-o e leu com carinho, viu que seu amor não havia abandonado tudo aquilo que passaram juntos. Agora ela estava feliz, nem sua cabeça latejava mais. Estava decidido: ela iria levá-lo à academia depois do expediente.

Clóvis trabalhou o dia todo, servindo expressos, descafeinados e capuccinos em uma bandeja reluzente, mas sem perder a pose e o rebolado que tinha ganho pela manhã. Agora, pela tarde, ele queria ir aos braços de sua Cassadra Cacilda. E foi, como um bêbado indo freneticamente atrás de uma cana.

Cassadra havia arrumado-se com sua leggin' preta justa, uma regata cinza, que avantajava seu busto e uma faixa preta na cabeça. Ela esperava por seu amor, pois ela sabia que ele estava a chegar. E ela estava certa, pois a campainha estava a tocar.

- Clóvis Constantino, eu senti tantas saudades suas! - Cassadra pulou sobre Clóvis, arrancando-lhe um beijo.
- Cassadra, eu também queria ter você em meus braços. Mas diga-me: por que você está vestida assim?
- Vamos à academia, preciso tirar uns culotes e, com você ao meu lado, sentir-me-ei mais forte para vencer isso - os olhos de Cassadra Cacilda enchiam-se de brilho e vigor.
- Eu só preciso trocar de roupas. Por sorte, deixo uma muda no carro. Vou buscá-las.

Clóvis foi até a garagem e buscou as roupas, foi ao banheiro e tirou seus sapatos, camisa de riscas e a calça. Colocou seu tênis Olimpikus, uma bermuda justa e uma camisa branca básica. Pentou o cabelo.

- Vamos Clóvis? - perguntou Cassadra, animada com Clóvis.
- Com você vou até o infinito - então Clovis beijou-a firmemente.

Saíram de casa e chegaram na academia Macho Duro, que ficava perto dali. Clovis Constantino e Cassadra Cacilda fizeram suas matrículas e começaram a malhar. Durante os abdominais de Cassandra, ela ouve uma música que lembrava-lhe seu passado sombrio:



Aquilo mexeu com ela. Agora ela estava dançando sobre os aparelhos de musculação, seduzindo cada pedaço de virilidade que passava por ali, brincando com os pesos, transformando os homens másculos em varas de poledance. Aquilo era seu apetite chamando, saindo de seu corpo. Incontrolável e implacável.

Clóvis Constantino viu tudo aquilo, parado. Queria chorar e, ao mesmo tempo, bater em Cassadra Cacilda. Mas não. Ele saiu dali e se foi, para não ter de sofrer com isso de novo. Saiu dali magoado, com o coração esmigalhado. Ele foi para um lugar conhecido, apenas por ele.

6 de set. de 2010

Capítulo VI

Clóvis Constantino, conhecendo muito bem aquele homem e suas condições, não quis discutir:
- Tudo bem, servir-te-ei café descafeinado... – e com cara de desprezo saiu da sala, ignorando as ordens de Mr Smith.

Agora só faltava começar seu curso de Oceanografia. Já havia resolvido tudo pouco antes de vir ao escritório da Restart: conseguiu uma universidade mulambenta, não precisou de muito esforço para entrar. Apenas uma conversinha rápida com a secretária gorda, de sorriso amarelado pelo cigarro e as pernas cabeludas...
Clóvis Constantino foi para casa vitorioso.

Já Cassandra Cacilda, algumas horas depois do seu acidente, abria os olhos lentamente. A luz que agora batia em seu rosto a deixara cega por alguns instantes. Sua cabeça doía, ela sentia suas roupas molhadas. Finalmente conseguiu levantar uma das mãos e leva-la à cabeça. Ela sentiu o sangue já seco em seus cabelos. O que aconteceu comigo?, pensava ela. Ficou deitada por algum tempo. Para ela pareceram alguns minutos, mas se foram quase duas horas desde que ela acordara.

Não conseguia se mexer, precisava de ajuda. Clóvis Constantino! Ela lembrou-se da noite selvagem que tiveram, todas aquelas cenas libidinosas vindo à tona em sua cabeça ferida... Então chamou por Clóvis Constantino. Chamou e chamou. Não obteve resposta, novamente. Sua voz fraca e seus gemidos de dor ecoavam pelo apartamento vazio. Agora, entrara em desespero. Teria Clóvis Constantino a abandonado? Mas por quê? Vergonha do que passaram? Ou seria o medo do apetite voraz da moça? Cassandra Cacilda apavorou-se. Sua sede de amor havia afastado dela seu par perfeito, o homem de sua vida, o Edward da sua Bella. Parou de gritar o nome de seu amado para dar espaço aos soluços, choros e gemidos. Ela voltou a ser o que era antes: uma pervertida, uma ninfomaníaca, uma bitch.

Cassandra Cacilda estava fraca, mas já conseguira levantar-se a ponto de ficar sentada, apoiado ao balcão da pia. Parou de chorar, estava com raiva de si mesma. Queria morrer ali e agora, mas não sem antes encontrar Clóvis Constantino e dar-lhe um último beijo. E outras coisas mais, se possível. Oh não, os pensamentos libidinosos. Estes pensamentos que a perseguiram por toda a sua vida. Não podia mais deixar-se levar por eles. Precisava de tratamento. Gritou mais um pouco por socorro, tinha fome e sede, sua cabeça latejava. Por fim, adormeceu novamente.

A noite passou e Clóvis Constantino já estava preocupado com Cassandra Cacilda. Por que ela ainda não havia ligado para ele? Não queria pensar muito. Apenas agarrou seu telefone e ligou para o apartamento de sua amada. O telefone tocou três vezes. Quatro. Cinco. Oito. Cassandra Cacilda não iria atender. Afinal, ela estava dormindo.

Clóvis Constantino ficou apreensivo, ligou mais duas vezes. Ela não atendeu. Decidiu não incomodá-la, seja lá o que estivesse fazendo. “Deixei-lhe um bilhete, não deixei? Ela, então, deve saber que eu não a abandonei... Está segura, tenho certeza. Deve estar trabalhando, ou apenas cansada”, pensava Clóvis Constantino, numa tentativa de afastar os pensamentos dramáticos de sua cabeça. Não pensaria em Cassandra Cacilda, alimentaria a ansiedade das surpresas até não poder mais.

Clóvis Constantino precisava dormir. Amanhã inicia a sua nova vida.
O dia amanheceu junto com a expectativa de Clóvis Constantino. Este levantou-se da cama em um pulo, estava decidido a impressionar todos que trabalham naquele escritório. Ligou a TV, o canal era a MTV, o programa era o LAB Freak, a música era a mais sugestiva o possível:

Abriu seu armário e escolheu suas melhores roupas: uma camisa social rosa com riscas pretas, uma calça jeans da Colcci manchada nas pernas como se tivesse derramado refrigerante e bordado no bumbum em letras garrafais a palavra sexy, além de um sapato oxford em couro branco. Vestiu-se em frente ao espelho, observando seu corpo com volúpia. Sentia-se poderoso. Fez um topete deixando os cabelos espetados usando seu sempre amigo gel para cabelos Bozzano. Escolheu sua melhor colônia Avon. No pescoço, seu crucifixo de ouro. Mais glam e arrasante impossível. Mas ainda faltava alguma coisa. Claro!, ele sabia muito bem o que faltava: desabotoou os três primeiros botões da camisa, deixando saltar os pêlos másculos do peito e levantou a gola. Agora sim.

Admirou-se ao espelho mais uma vez. Fez pose de badboy e, com uma piscadela e um sorriso malicioso, disse para si mesmo “Vai, gostoso!”. Seu estado de espírito dizia “Licença para arrasar”.

O dia promete.

28 de ago. de 2010

Capítulo V

Chegando ao escritório "Restart", Clóvis Constantino entrou e sentiu aquele odor de lavanda e metal que vinha de dentro do recinto: era puro luxo, tudo muito chic, com lustres de cristais forjados em ouro, móveis de madeira tabaco e metal com um tecido aveludado e todas aquelas pessoas sorrindo e todas muito glam olhando para ele. Clóvis Constantino viu que aquele lugar era ideal para que ele pudesse crescer na vida. E era verdade.

- Olá, eu vim aqui para a entrevista de emprego, para servir o café - disse Clóvis to empolgado.
- Olá, perfeitamente. Por favor, queira acompanhar-me até a sala de entrevistas, senhor - a moça deu uma escaneada em Clóvis, falando com toda a delicadeza e fofura que possuía.

O escritório tinha dois andares e era grande, ocupava meia quadra do bairro. Clóvis Constantino seguia a moça fielmente, olhando por onde passava. Era um lugar magnífico.

- Aqui está, a sala de entrevistas. Por favor, senhor, espere até que lhe chamem para a entrevista - a moça era muito doce.
- Sim, e muito obrigado - Clóvis sorriu para ela, simpaticamente.

A moça foi indo embora, toda empolgada por ter recebido um sorriso charmoso de um homem que ela tinha achado interessante. Clóvis, por sua vez, ficou ali sentado esperando para que alguém viesse chamá-lo, pois ele estava bem ancioso. Passaram-se quinze minutos e Clóvis Constantino estava quase morrendo de sono, pescava e babava ali, no banco de camurça preto com toques cromados muito glam. Então, ele ouviu de longe alguém falar seu nome, até que percebeu quem era... Não podia ser... Clóvis imediatamente queria fugir dali, não queria mais trabalhar nesse recinto superglam.

- Clóóóóóviss, é você!! Há quanto tempo!? - o homem parecia ser um conhecido de seu passado.
- Sim, sou eu mesmo Sr. Smith. Bom, faz mais ou menos uns 3 dias que não nos vemos, desde a boate - Clóvis Constantino estava apreensivo. Ele não queria estar ali, com o Sr.Smith.
- Bom, entre em minha sala. Nem acredito que você veio aqui para trabalhar, posso arranjar-lhe coisas bem melhores que ser o garoto do café.
- Mas eu preciso de dinheiro para começar a sustentar uma família, pois a mesma não se sustenta só de amor e carinho.

Sr.Smith não gostou nada nada de ter ouvido isso.
- Uma família? Como assim uma família, Clóvis Constantino? Não me diga que você está com aquela mulher pé rapada com um troço roxo no queixo!? Você sabe que eu fui muito melhor do que ela... - Sr.Smith queria pular em Clóvis, queria agarrar-lhe e roubar um beijo, mas não ali. Não no seu escritório, onde todos achavam que ele fosse macho alfa.
- Sr.Smith... O que o passado me fez fazer, não importa mais, eu sou um homem sério agora e não adianta insistir. Aquilo foi só uma experiência que não deu certo.

Clóvis Constantino não gostava de lembrar de seu romance adolescente com Sr.Smith. Mas era inevitável, todas aquelas cenas vindo em flashes em sua cabeça, as sensações, as emoções, o tato, os beijos... Aquilo estava deixando-o embaludado e, ao mesmo tempo, com nojo e medo porque não queria isso mais em sua vida. Só podia pensar em Cassandra Cacilda, seu único amor verdadeiro.

- Clóvis, vamos voltar a ter aquele sentimento mútuo que tínhamos um pelo outro, por favor...
- Sr.Smith, terei meu emprego de servidor de café ou não? Não posso ficar aqui o sia todo, tenho outros lugares para ir, além de ir na casa da MINHA namorada - Clóvis Constantino estava ficando revoltado, seu corpo e sua mente... Ele não conseguia controlar suas emoções.
- Só com uma condição...

23 de ago. de 2010

Capítulo IV

Clóvis Constantino desligou o telefone atônito. Encarava o nada. Até voltar à realidade com o gritos de Cassandra Cacilda.

- Clóooovis, VEMK!

Clóvis Constantino, viril e sedento, voltou à sala em que fez nascer raios de amor até o amanhecer. Lá estava Cassandra Cacilda esperando-o. Como era linda aquela mulher! Como ele pôde não notá-la assim que entrou no restaurante orgânico? Como não pôde perceber que aquela meleca roxa a deixava mais linda? Como pôde ter sido um estúpido arrogante, entrando na casa daquela deusa sem nem pedir licença, e encher aquele Monte Olimpo com o odor de suas entranhas? Bem, agora isso não importava mais. Ele a tinha em suas mãos. E ela tinha... bem, vocês sabem.


O dia passou e os nem notaram. Só tinham olhos um para o outro. Caiu a noite, Cassandra Cacilda caiu no sono. Aquela mulher frágil com fôlego de leão se deu por vencida. Estava cansada.

Clóvis Constantino foi até a varanda, puxou seu maço de Carlton Mint e, fumando, apreciou o pôr-do-sol. Pensava em deixar o apartamento da amada. Mas tinha medo. Medo de perdê-la, medo de voltar a ser um lobo solitário, que ganha a vida com mulheres de uma noite. Não queria deixa-la. Não podia deixa-la. Algo dentro dele dizia que essa era a mulher de sua vida. Queria passar o resto da vida com ela! Casar, morar em uma casa amarela com cerca de madeira, cuidar do jardim aos sábados, ir à igreja no domingo de manhã e almoçar com a família... Ter filhos, claro! Um menino e uma menina. Poderia ensinar-lhes música, história da arte, matemática, o fascinante mundo da física quântica. Ensinar-lhes-ia tudo que pudesse.

Mas Clóvis Constantino não tinha um emprego, não tinha uma formação. Até aquele dia, vinha vivendo com a fortuna que seu pai havia lhe deixado. Não queria mais ser sustentado pelo trabalho do pai. Decidiu ter um emprego, decidiu estudar. Mas estudar o quê?

Pegou suas roupas, vestindo-se apressadamente. Estava decidido: iria procurar um emprego e começar a estudar.

Enquanto Clóvis Constantino pesquisava e sonhava com seu futuro ao lado de Cassandra Cacilda, esta dormia.

Depois de muita pesquisa, Clóvis Constantino encontrou uma vaga que lhe parecia atraente: garoto do cafezinho em um famoso escritório de design. Trabalharia durante o dia, estudaria à noite. O curso escolhido? Oceanografia.

Deixou uma mensagem na secretária eletrônica para Cassandra Cacilda: “Querida Cassandra, estive pensando muito em nós. Sei que fui rude e inconveniente. Sei que errei. E agora percebi que você é a mulher da minha vida, a única mulher que me fará realmente feliz. Além da minha mãe, claro. Decidi ajeitar minha vida para assim poder te fazer a mulher mais feliz do mundo. Não, não quero viver de amor. Te amo.”
Cassandra Cacilda, ao acordar, sentia suas pernas bambas. Não tinha forças. Apesar disso, conseguiu levantar-se e chamar por Clóvis Constantino. Não obteve resposta, estava sozinha. Sentiu seus olhos marejarem, e então lágrimas escorreram por sua doce e suave face. Lá fora, chovia.

Então começou o vento. Entrava pelas janelas de seu apartamento em alta velocidade, derrubando flores e espalhando papéis. Junto, a chuva. Cassandra Cacilda correu até seu quarto para fechar a janela. Foi e voltou. Lembrou-se da janela da cozinha aberta. Correu até o dito cômodo e, assim como um tomate espatifa-se ao encontro do chão, lá se foi Cassandra Cacilda. O chão fora molhado pela chuva, e os chinelinhos bordados com rendas e flores de pedrinhas de plástico não conseguiram segurá-la. Cassandra Cacilda bateu a cabeça na quina da mesa. Seu corpo jazia imóvel no piso molhado, seu sangue misturando-se agora com a água que entrava pela janela.

Cassandra Cacilda estava desmaiada em um sono profundo. Será que ela conseguirá acordar?

8 de ago. de 2010

Capítulo III

Chegando em casa, Cassandra Cacilda pegou seu copo de requeijão do Piu Piu e encheu-o com água gelada até a borda. Bebeu. Clóvis Constantino também entrou na casa de Cassandra Cassilda, afinal, ele queria se assegurar que ela ficaria bem.

- Você está bem, agora, Cassandra Cacilda? - Clóvis Constantino estava apreenssivo.
- Como ousa entrar em minha casa, Clóvis? Você nem foi convidado, além de ficar gozando de minha cara por estar com meleca roxa, você ainda por cima não respeita a privacidade das pessoas.
- Cassandra Cacilda... Eu tenho... Uma coisa para lhe dizer... - Clóvis estava muito nervoso e apreenssivo, pois havia algo em seu estômago, em seu corpo que estava lhe dizendo para ir adiante.
- Sim, diga... - Cassandra Cacilda mudou seu tom de voz. Estava esperando que Clóvis Constantino dissesse o que ela queria ouvir, esperando que saísse de sua boca como se fosse música cantarolada em um dia ensolarado.
- Onde fica o banheiro? Estou com uma diarreia daquelas e o urubu já está beliscando - então, ao mesmo tempo, Clóvis Constantino solta uma bufa.

Quando Clóvis Constantino disse isso, o mundo de Cassandra Cacilda desabou como se alguém tivesse pego uma folha de papel e colocasse no fogo escaldante.
- É aquela porta atrás de você - ela falou aos choros.

Clóvis Constantino foi correndo e a medida que andava, soltava uma bufa que incomodava seu corpo. Já Cassandra Cacilda, ficou ali, chorando aos prantos. Depois do que ela presenciou, Cassandra Cacilda realmente pensou em ser uma pessoa diferente: ser uma freira e morrer sozinha, somente amando a Cristo como sempre fez aos domingos e nos meses em que havia o Encontro de Jovens "Exército de Jesus". Mas não.

Enquanto isso, Clóvis Constantino estava lá, desempacotando seu Negresco enquanto lia a revista Caras, lendo a reportagem que Justin Bieber bateu a cabeça na porta giratória do banco. Quando terminou de fazer suas necessidades, Clóvis Constantino puxou a descarga e lavou suas mãos. Ajeitou-se e apertou um pouco o Bom Ar fixado na parede. Quando saiu do banheiro com cheiro de flores campestres, Cassandra Cacilda veio correndo e pulou no colo de Clóvis Constantino, abraçando-o firmemente como se fosse a vara do poledance.

- Clóvis Constantino, eu te amo meu gostosão - e nisso Cassandra Cacilda deu um beijo que arrancou suspiros desenfreados de Clóvis Constantino.
- Cassadra Cacilda, eu também te amo, mas eu não sabia se você também sentia o mesmo que eu. Saiba que quero fazer parte de sua vida e te fazer feliz - Clóvis até que se saía bem falando seus sentimentos.

Aquele odor de sândalo que saía da garganta de Clóvis Constantino deixava Cassandra Cacilda estonteada, ela não estava mais tendo constrole de seus sentimentos, ações e pensamentos.
- Venha Clóvis Constantino, vamos para um lugar melhor e mais aconchegante...
- Vamos...

Os dois foram para o lugar aos beijos descontrolados e desinibidos. Depois de muito a se beijar, chegaram. Era o colchão inflável da Mohr que ficava na sala da casa, para dar mais aconchego. Os dois caíram sobre o colchão e continuaram nos amassos e oba-obas da vida carnal e mundana que todos adoram.

Aquilo durou a noite toda com vários "Te Amo", "Te Quero", "Me Possua", "Dá-me Seu Amor", "Vem k" e etc.

Pela manhã, os dois dormiam como anjos, mas em uma posição nada angelical. Nisso, o telefone celular de Clóvis Constantino toca e ele acorda ligeiramente, atendendo-o.
-Alô. Quem fala?
-Aqui é seu amigo, lembras de mim?

Clóvis Constantino não sabia como ele havia encontrado seu número do telefone celular, mas sabia que agora não era uma boa hora para pensar nisso. Ele precisava conhecer esse cara e queria saber o que ele queria.

31 de jul. de 2010

Capítulo II

O carro do rapaz era espaçoso e confortável. Cheirava a couro. Um cheiro másculo que, combinado ao do homem sentado ao lado de Cassandra Cacilda, a deixava inebriada.  
Houve um momento de silêncio, em que o único barulho que se ouvia era o da chuva, agora mais forte, de encontro ao vidro das janelas.

Cassandra Cacilda tremia. Seria medo? Frio, talvez? Ou apenas aquele nervosismo do primeiro encontro? Nem ela sabia. Queria falar alguma coisa para quebrar o silêncio que, surpreendentemente, não era constrangedor. Mas ela queria saber mais sobre aquele rapaz. Preferiu permanecer quieta, deixando que ele iniciasse uma conversa:

- Percebi que você ficou incomodada com o que eu disse – ele disse olhando-a nos olhos. Mas você parecia uma idiota com aquela meleca roxa no queixo. Quero me desculpar.
- Tudo bem... – ela disse num sussurro.
- Meu nome é Clóvis. Clóvis Constantino. Qual seu nome?
- Cassandra Cacilda – ela agora falava com um tom de voz áspero, de desprezo.
- Tem certeza de que está tudo bem?
- Não, não está tudo bem! Você fica rindo de mim do bar, provavelmente fazendo piada com seus companheiros. Depois vem tirar com a minha cara, falando comigo como se eu fosse uma criança babona... Não venha com essa papo de “sou bonzinho, me abrace”, não cola!

Cassandra Cacilda saiu do carro, mesmo naquela chuva e, chorando, começou a correr. Sentia vergonha. Uma vergonha maior que aquela sentida no restaurante. O que ela estava pensando quando o abraçou no beco? Estava arrependida. Sentia-se uma meretriz entregando-se assim para qualquer um.

Ela só queria correr. E correr.

Sua roupa estava molhada e os cabelos castanhos escorridos pelo rosto. Então seu salto quebrou. E ela foi com a face de encontro ao chão. O chão molhado e sujo. A rua já parecia um pequeno córrego, levando muito lixo em sua correnteza. Cassandra Cacilda, num golpe de força, levantou-se. Estava suja. Tão suja, que a meleca roxa passaria despercebida. Ela tinha folhas em seu cabelo, e um folheto da campanha do Enéas estava colado em suas costas. Pobre Cassandra.

Cassandra Cacilda sentou-se na calçada para lamentar um pouco. Sua vida esta uma grande merda, e o que ela mais queria naquele momento era fugir. Então, uma luz adentrou a rua escura, iluminando Cassandra. Ela nem se importou, estava agora triste demais para sentir vergonha. Mas teve a boa-vontade de ver o que era. Seria Deus vindo buscá-la? Não, não era Deus. "Merda!", ela pensou. Era Clóvis Constantino.

- Cassandra Cacilda, por favor me perdoe! - ele gritava, tentando superar o barulho da chuva. Fui um tanto estúpido, mas meu coração é bom demais para deixar-te sem saber se me perdoas.

"Mas que porra é essa que ele está dizendo?", uma voz ecoava na cabeça de Cassandra Cacilda. Ela, sentada ali naquela calçada suja da rua escura, encarava o nada. E então começou a pensar nos seus objetivos, no rumo que sua vida tomara. Seu passado, o que viria a ser seu futuro. Por um momento, ficou preocupada. Depois, apenas pensou "Foda-se, a vida é minha".

Levantou-se, entrou no carro e, com um olhar malicioso, ordenou:
- Vá para a diversão.
- Como quiser - respondeu Clóvis Constantino, pisando no acelerador.

Clóvis Constantino, de repente, parou. Olhou para Cassandra Cacilda e, com um ar misterioso, dirigiu o olhar para o letreiro que dizia "Boite Cê Q Sab". Era ali, então, que morava a diversão. Entraram. O ambiente cheirava a cigarros e sexo. Cheiros muito conhecidos por Cassandra Cacilda... seu passado estava ali.

- Então, Cassandra. Você pediu, aqui está - Clóvis Constantino ria, esperando uma reação de Cassandra Cacilda.

Cassandra Cacilda rapidamente mudara de postura, ajeitando os cabelos e retirando o chiclete do sapato. Poderosa, voltara ao seu habtat natural.

Puxou Clóvis Constantino para dançar. Fazia uma dança sensual enquanto roubava o drinque dos outros que ali dançavam, jogando a bebida em seu corpo. Subia no balcão, chamava garotas para dançar. Então um ritmo conhecido invadiu seus ouvidos:



Foi possuída pelo ritmo latino da música e, perdendo seu último pingo de vergonha e dignidade, subiu no palco para sensualizar no poledance. Tudo sem perder de vista o homem que a acompanhava. Dava giros, saltos, estava arrasando, nasceu para aquilo.

- Clóvis Constantino? - um arrepio subiu-lhe a espinha. Para onde ele foi?

Cassandra Cacilda, num ataque de sanidade, percebeu onde estava. Em uma boate, dançando para outros homens e tocando em mulheres. Por que ela estava fazendo isso? Ficou pálida, atônita. "Que lugar é esse?". Procurava um rosto conhecido enquanto tentava afastar os pensamentos libidinosos que, não sabia como, estavam em sua cabeça. Ela não podia voltar ao passado.

Desceu do palco e foi atrás de Clóvis Constantino. Chamava-o sem resposta. Teria ele a deixado naquele lugar impuro? Não. Ele ainda estava lá. Cassandra Cacilda parou ao vê-lo conversando animadamente com um homem negro, careca e robusto, vestido do mais puro bom-gosto. Clóvis Constantino, ao ver Cassandra Cacilda, acenou para ela, encorajando-a a juntar-se aos dois. Um tanto amedrontada, Cassandra Cacilda aproximou-se.

- Clóvis Constantino, quero ir embora!
- Calma, Cassandra Cacilda, já vamos... Antes, quero lhe apresentar o meu novo amigo, o...
- Quero ir embora agora! - saiu, deixando os dois ali, embasbacados.

Clóvis Constantino foi atrás de Cassandra Cacilda, sem nem despedir-se do homem que acabara de conhecer.

- Entra no carro logo, Clóvis Constantino! - gritava feito uma louca.
- O que há de errado, Cassandra Cacilda?
- Tudo, tudo está errado! Como você pode ter me trazido à este antro de prostituição? O que você pensa que eu sou?
- Cassandra Cacilda, você que pediu para que eu lhe trouxesse aqui, como pode ter ficado assim?
- Cale a boca e me leve para casa! Não vou deixar que me trate como uma puta ordinária!

Clóvis tentou pedir que Cassandra explicasse o motivo de toda aquela ira, mas esta apenas ficava em silêncio.

Agora, lágrimas escorriam pela face de Cassandra Cacilda. Ela se deixara levar por desejos mundanos, desejos que ela jurou que nunca mais teria. Lembrou-se de suas promessas, de sua cura espiritual, de sua busca por um alguém que a tirasse daquela vida... Alguém especial.

Alguém como Clóvis Constantino. Ou não. Mas suas entranhas diziam que aquele era o homem da vida dela, mesmo conhecendo-o há pouco mais que cinco horas. Em sua mente, Clóvis Constantino já era seu. Já sentia ciúmes.

Ciúmes... E a figura do homem negro apareceu em sua cabeça. 

25 de jul. de 2010

Capítulo I – Quando fala o coração

Era uma noite de chuva e frio. Cassandra Cacilda e suas amigas estavam em casa, entediadas daquele sábado sem cor. Elas eram jovens, lindas e poderosas, tinham cabelos compridos e tinham feito depilação definitiva fazia poucos meses. Por quê, então, deveriam passar a noite de sábado em casa, comendo Doritos e assistindo o Roda a Roda?

- Amigas, nós temos todos os motivos do mundo para sairmos esta noite! – começou Cassandra Cacilda, irritada, cortando o silêncio da sala.
- Mas está chovendo, e está tão frio lá fora...
- Frio está seu coração. Há quanto tempo você não pega ninguém mesmo?

A amiga encarou raivosamente os olhos de Cassandra Cacilda. Mas permitiu-se permanecer calada. As outras, observando a cena, animaram-se em sair, mesmo com o frio que fazia lá fora.
Logo, estavam todas tirando o pijama e o creme de pepino do rosto. Em questão de minutos, estavam vestidas e cheirosas para matar.

- Temos licença para arrasar! – gritaram. Este era seu grito de guerra.

Decidiram fazer o “esquenta” em um restaurante orgânico, muito conhecido na cidade. Depois iriam para o BaladaEco, uma boate sustentável que usava a água da chuva para produzir o gelo que seria usado nos mictórios.
Sentaram-se e fizeram seus pedidos. Cassandra Cacilda optou pela Salada Cavalo: uma deliciosa salada de broto de alfafa e feijão, com macios e suculentos grãos de milho cozido.
Deliciaram-se com seus pratos orgânicos e pouco calóricos, dando risadas e contando fofocas entre uma garfada e outra. Satisfeitas, pediriam a sobremesa para logo seguirem para a boate. Cassandra Cacilda pediu a mousse de beterraba com granola. Seria preciso muita energia para agüentar a noitada que estava por vir.

Foi quando deu a primeira colherada na mousse que Cassandra Cacilda viu uma luz adentrando o recinto. Seguido por um cheiro inconfundível de perfume Avon masculino e gel Bozzano. A luz enfraqueceu seus olhos, mas logo ela pôde ver: um homem que ela definiria com apenas duas palavras: deus grego. Alto, branco (até demais), olhos de um castanho muito claro. Esse era o homem ideal.

Ele estava sozinho. Andou até o bar enquanto arrancava suspiros das mulheres que ali estavam. De alguns homens também. Sentou-se e pediu um drinque azul-espumante. Cassandra Cacilda não conhecia aquele drinque, mas achou toda a cena muito sensual. Aquele homem mexia com seus instintos mais selvagens.

O homem lançou um rápido olhar sobre ela que, encabulada, desviou, fingindo prestar atenção na mousse e na conversa das amigas. Fitava rapidamente o rapaz, observando-o com voluptosidade. E ele retribuía, deixando Cassandra Cacilda com a bochechas vermelhas.

- Vou ao banheiro, alguém me acompanha? – disse uma das amigas.

Todas levantaram-se, menos Cassandra Cacilda, distraída pela estonteante beleza do rapaz sentado ao bar.

- Você não vem, Cacildinha?
- N... não... Vou ficar bem aqui. – respondeu, desviando o olhar para as amigas.
- Então está bem, voltamos logo – uma delas respondeu.

Cassandra Cacilda voltou a admirar o rapaz. O rapaz lindo, perfeito, alto, másculo, cheirando à testosterona. Ela o queria.
Foi então que ele levantou-se e veio andando em sua direção. “Ele está vindo falar comigo?”, pensava ela. O cheiro que ele exalava fazia-a suspirar de prazer, fechando os olhos e esquecendo seus outros sentidos.

- Olá – interrompeu uma voz grossa.
Ela abriu os olhos. Era ele!
- Posso me sentar? – pediu educadamente.
- Claro! – respondeu, não conseguindo esconder o entusiasmo.
- Estava te olhando ali do bar, e... Bem, percebi que suas amigas te deixaram aqui sozinha...
- Sim, estou sozinha – ela falava baixo. Agora o cheiro dele estava muito mais forte.
- É, e queria te falar uma coisa, sabe? É que...
- O quê? – perguntava ela, aproximando-se dele.
- Tem uma coisa roxa no seu queixo. Bem estranha... Melhor limpar, hein? – e saiu da mesa acenando para ela.

Pronto, sua auto-estima caiu. Foi para o pré-sal. Ela já não queria mais sair. Limpou a sujeira de seu queixo e foi preparando-se para sair quando suas amigas voltaram do banheiro. Elas riam, estavam animadas com esta noite.

- Amigas, viram o gato que está no bar? – disseram duas das amigas, em coro.
A pergunta foi seguida por risinhos abafados e olhadelas em direção ao bar. Cassandra Cacilda apenas acenava com a cabeça, com um olhar triste.
- O que foi, Cassandra?
- Não estou muito bem. Acho que tinha algo de errado com a beterraba... Vocês ainda vão para a balada, sim? Eu vou para casa, preciso me deitar. Aproveitem! – pegou sua bolsa e saiu correndo.

Cassandra Cacilda começou a chorar assim que saiu do bar. Estava com seu orgulho ferido, e agora seu rímel estava borrado. Como iria superar aquilo? Estava chorando no beco ao lado do restaurante quando ouviu suas amigas saírem.

- Ela está muito estranha hoje. O que será que aconteceu? – perguntou uma às outras.
- Ela é estranha, vamos aceitar. Tem umas manias esquisitas e, o pior de tudo, acha que tem cabelo bom! – uma delas disse rindo.

As demais concordaram e seguiram até o carro, de onde iriam para a BaladaEco.

Cassandra Cacilda, ainda no beco, chorou mais ainda. Havia descoberto que suas amigas não eram amigas. Eram cobras. Eram falsas! Logo ela, que havia superado todo o seu passado de festas sexuais, regadas a bebidas e drogas. Ela achou que seria capaz de encontrar amigas de verdade. Mas estava enganada. E agora, sozinha no mundo.

Decidiu chamar um táxi. Pegou seu celular e começou a discar quando uma voz masculina, com timbre de autoridade, mas doce ao mesmo tempo, invadiu o beco:
- Você está bem? – a voz perguntava.
- Sim... eu acho – Cassandra respondia entre soluços.
- Saia daí, é perigoso. Venha para a luz, não vou te machucar.

Cassandra Cacilda, não se importando com a presença estranha que a chamava, foi em direção à voz. À medida que se aproximada, um cheiro conhecido invadia suas narinas. Era o rapaz do bar! O rapaz que, sem perceber, havia lhe dado um soco no estômago.

- Não chore, moça. – dizia ele abrindo os braços fortes para ela.

Cassandra Cacilda tentou falar alguma coisa. Agradecer, talvez. Mas só conseguia chorar. Atirou-se naqueles braços grandes, abraçando o tronco malhado do rapaz. Ela só precisava de um abraço. Alguém que lhe desse segurança, que a protegesse deste mundo cheio de pessoas infiéis, traidoras e manipuladoras. Um abraço para acalentar seu coração ferido.

Passaram um tempo abraçados na chuva. O frio não incomodava, seus corpos estavam quentes.

Então Cassandra Cacilda sentiu-se segura o suficiente para olhar nos olhos daquele homem que agora a abraçava como se fosse um velho amigo. Ficou admirando-o por alguns segundos, ensaiando, em sua mente, o que iria dizer para ele.

- Que... Quem é você? – gaguejando, foi tudo o que conseguiu pronunciar.
- Primeiro, vamos nos secar. Está muito frio aqui – ele respondeu com a voz firme, conduzindo-a até seu carro.

Estava entrando no carro de um estranho, mas não tinha medo. Ela se sentia segura. Algo dizia que, dali pra frente, as coisas seriam melhores.

Mas o quê a esperava? Isso, ela não sabia.