19 de set. de 2010

Capítulo VII

Clóvis Constantino chegou ao escritório Restart todo pomposo, voluptuoso e arrasante. Afinal, ele havia se emperequetado todo para seu primeiro dia naquele escritório, sendo o boy do café. A porta dianteira, de vidro fumê, abriu-se automaticamente, onde todos os que estavam no hall de entrada puderam ver: seus pelos másculos. Por onde Clóvis Constantino andava, deixava todos de queixos caídos. Ele passou pelo corredor estreito com paredes formando espirais coloridas e, ao final, ele passouno setor de fotocópias, onde a moça de sapatos camurça avermelhados, vestido pregado preto até os joelhos, camisa folgada branca e de gola volumosa e um coque nos seus cabelos louros.
Ela escaneou Clóvis de cima a baixo, dando ênfase aos seus pelos berrantes ao pé do pescoço.

Clóvis Constantino finalmente estava em um emprego digno, sem precisar da fortuna que seu pai deixou-lhe e, o mais gratificante, a faculdade de oceanografia. Tudo estava na mais perfeita harmonia, exceto uma coisa: nada de Cassandra Cacilda.

Cassadra acordou-se de seu sono profundo e angustiado, sonhando que havia perdido o amor de sua vida, a razão de seu viver, o pepino de sua salada. E que pepino... AH, os pensamentos libidinosos de novo. Aquilo não saía de sua cabeça, ia e voltava como flashes ininterruptos.
Enfim, Cassadra Cacilda queria tirar isso de sua cabeça, afinal, Clóvis Constantino não preocupou-se com ela desde aquela noite... E que noite...
De novo os pensamentos, pensou Cassandra Cacilda, dirigindo-se ao banheiro, pois ela queria lavar toda a crosta de sangue em sua cabeça e a água da chuva que deixou-a ensopada.

Clóvis Constantino fingiu não ter observado o olhar afogueado da moça, pois ele tinha compromisso com uma moça bem mais apetitosa: Cassadra Cacilda, a sua moreninha. Clóvis Constantino, após ter pego os relatórios, foi até a sala do Sr. Smith, para efetuar a entrega dos mesmos.

- Bom dia Clóvis Constantino! Como vão as coisas? - perguntou Sr. Smith, com toda sua inocência.
- Bom dia Sr. Smith, tudo vai bem. E com o Sr.?
- Poderia estar tudo melhor, se você estivesse aqui... Ao meu lado...
- Não - as lembranças vindo à tona, deixando Clóvis Contantino fraco e atônito - Tenho uma namorada, e não posso traí-la.
- Mas Clóvis...
- Não, preciso voltar ao trabalho - Clóvis Contantino deixou a sala, aliviado e pensando na sua amada Cassadra Cacilda.

Ela saiu do banho, enxugando seus divos cabelos e chacoalhando-os de um lado para o outro. Depois, ela começou a enxugar os pés e, vagarosamente, foi levando a toalha para a panturrilha... Ela estava glamurosa depois do banho com sabonete Palmolive e shampoo Monange. Cheirava a cabela e laranja, preferidos de Clóvis Constantino.
Cassadra terminou de enxugar-se e saiu do banheiro enleada na toalha. Passou pela cozinha e, chagando na sala, viu que havia um bilhete ali. Era de Clóvis. Cassadra Cacilda rapidamente abriu-o e leu com carinho, viu que seu amor não havia abandonado tudo aquilo que passaram juntos. Agora ela estava feliz, nem sua cabeça latejava mais. Estava decidido: ela iria levá-lo à academia depois do expediente.

Clóvis trabalhou o dia todo, servindo expressos, descafeinados e capuccinos em uma bandeja reluzente, mas sem perder a pose e o rebolado que tinha ganho pela manhã. Agora, pela tarde, ele queria ir aos braços de sua Cassadra Cacilda. E foi, como um bêbado indo freneticamente atrás de uma cana.

Cassadra havia arrumado-se com sua leggin' preta justa, uma regata cinza, que avantajava seu busto e uma faixa preta na cabeça. Ela esperava por seu amor, pois ela sabia que ele estava a chegar. E ela estava certa, pois a campainha estava a tocar.

- Clóvis Constantino, eu senti tantas saudades suas! - Cassadra pulou sobre Clóvis, arrancando-lhe um beijo.
- Cassadra, eu também queria ter você em meus braços. Mas diga-me: por que você está vestida assim?
- Vamos à academia, preciso tirar uns culotes e, com você ao meu lado, sentir-me-ei mais forte para vencer isso - os olhos de Cassadra Cacilda enchiam-se de brilho e vigor.
- Eu só preciso trocar de roupas. Por sorte, deixo uma muda no carro. Vou buscá-las.

Clóvis foi até a garagem e buscou as roupas, foi ao banheiro e tirou seus sapatos, camisa de riscas e a calça. Colocou seu tênis Olimpikus, uma bermuda justa e uma camisa branca básica. Pentou o cabelo.

- Vamos Clóvis? - perguntou Cassadra, animada com Clóvis.
- Com você vou até o infinito - então Clovis beijou-a firmemente.

Saíram de casa e chegaram na academia Macho Duro, que ficava perto dali. Clovis Constantino e Cassadra Cacilda fizeram suas matrículas e começaram a malhar. Durante os abdominais de Cassandra, ela ouve uma música que lembrava-lhe seu passado sombrio:



Aquilo mexeu com ela. Agora ela estava dançando sobre os aparelhos de musculação, seduzindo cada pedaço de virilidade que passava por ali, brincando com os pesos, transformando os homens másculos em varas de poledance. Aquilo era seu apetite chamando, saindo de seu corpo. Incontrolável e implacável.

Clóvis Constantino viu tudo aquilo, parado. Queria chorar e, ao mesmo tempo, bater em Cassadra Cacilda. Mas não. Ele saiu dali e se foi, para não ter de sofrer com isso de novo. Saiu dali magoado, com o coração esmigalhado. Ele foi para um lugar conhecido, apenas por ele.

6 de set. de 2010

Capítulo VI

Clóvis Constantino, conhecendo muito bem aquele homem e suas condições, não quis discutir:
- Tudo bem, servir-te-ei café descafeinado... – e com cara de desprezo saiu da sala, ignorando as ordens de Mr Smith.

Agora só faltava começar seu curso de Oceanografia. Já havia resolvido tudo pouco antes de vir ao escritório da Restart: conseguiu uma universidade mulambenta, não precisou de muito esforço para entrar. Apenas uma conversinha rápida com a secretária gorda, de sorriso amarelado pelo cigarro e as pernas cabeludas...
Clóvis Constantino foi para casa vitorioso.

Já Cassandra Cacilda, algumas horas depois do seu acidente, abria os olhos lentamente. A luz que agora batia em seu rosto a deixara cega por alguns instantes. Sua cabeça doía, ela sentia suas roupas molhadas. Finalmente conseguiu levantar uma das mãos e leva-la à cabeça. Ela sentiu o sangue já seco em seus cabelos. O que aconteceu comigo?, pensava ela. Ficou deitada por algum tempo. Para ela pareceram alguns minutos, mas se foram quase duas horas desde que ela acordara.

Não conseguia se mexer, precisava de ajuda. Clóvis Constantino! Ela lembrou-se da noite selvagem que tiveram, todas aquelas cenas libidinosas vindo à tona em sua cabeça ferida... Então chamou por Clóvis Constantino. Chamou e chamou. Não obteve resposta, novamente. Sua voz fraca e seus gemidos de dor ecoavam pelo apartamento vazio. Agora, entrara em desespero. Teria Clóvis Constantino a abandonado? Mas por quê? Vergonha do que passaram? Ou seria o medo do apetite voraz da moça? Cassandra Cacilda apavorou-se. Sua sede de amor havia afastado dela seu par perfeito, o homem de sua vida, o Edward da sua Bella. Parou de gritar o nome de seu amado para dar espaço aos soluços, choros e gemidos. Ela voltou a ser o que era antes: uma pervertida, uma ninfomaníaca, uma bitch.

Cassandra Cacilda estava fraca, mas já conseguira levantar-se a ponto de ficar sentada, apoiado ao balcão da pia. Parou de chorar, estava com raiva de si mesma. Queria morrer ali e agora, mas não sem antes encontrar Clóvis Constantino e dar-lhe um último beijo. E outras coisas mais, se possível. Oh não, os pensamentos libidinosos. Estes pensamentos que a perseguiram por toda a sua vida. Não podia mais deixar-se levar por eles. Precisava de tratamento. Gritou mais um pouco por socorro, tinha fome e sede, sua cabeça latejava. Por fim, adormeceu novamente.

A noite passou e Clóvis Constantino já estava preocupado com Cassandra Cacilda. Por que ela ainda não havia ligado para ele? Não queria pensar muito. Apenas agarrou seu telefone e ligou para o apartamento de sua amada. O telefone tocou três vezes. Quatro. Cinco. Oito. Cassandra Cacilda não iria atender. Afinal, ela estava dormindo.

Clóvis Constantino ficou apreensivo, ligou mais duas vezes. Ela não atendeu. Decidiu não incomodá-la, seja lá o que estivesse fazendo. “Deixei-lhe um bilhete, não deixei? Ela, então, deve saber que eu não a abandonei... Está segura, tenho certeza. Deve estar trabalhando, ou apenas cansada”, pensava Clóvis Constantino, numa tentativa de afastar os pensamentos dramáticos de sua cabeça. Não pensaria em Cassandra Cacilda, alimentaria a ansiedade das surpresas até não poder mais.

Clóvis Constantino precisava dormir. Amanhã inicia a sua nova vida.
O dia amanheceu junto com a expectativa de Clóvis Constantino. Este levantou-se da cama em um pulo, estava decidido a impressionar todos que trabalham naquele escritório. Ligou a TV, o canal era a MTV, o programa era o LAB Freak, a música era a mais sugestiva o possível:

Abriu seu armário e escolheu suas melhores roupas: uma camisa social rosa com riscas pretas, uma calça jeans da Colcci manchada nas pernas como se tivesse derramado refrigerante e bordado no bumbum em letras garrafais a palavra sexy, além de um sapato oxford em couro branco. Vestiu-se em frente ao espelho, observando seu corpo com volúpia. Sentia-se poderoso. Fez um topete deixando os cabelos espetados usando seu sempre amigo gel para cabelos Bozzano. Escolheu sua melhor colônia Avon. No pescoço, seu crucifixo de ouro. Mais glam e arrasante impossível. Mas ainda faltava alguma coisa. Claro!, ele sabia muito bem o que faltava: desabotoou os três primeiros botões da camisa, deixando saltar os pêlos másculos do peito e levantou a gola. Agora sim.

Admirou-se ao espelho mais uma vez. Fez pose de badboy e, com uma piscadela e um sorriso malicioso, disse para si mesmo “Vai, gostoso!”. Seu estado de espírito dizia “Licença para arrasar”.

O dia promete.