3 de out. de 2010

Capítulo VIII

Enquanto Cassandra Cacilda dançava entre aqueles belos machos de coxas duras e torneadas, Clóvis Constantino corria e chorava. Por que aquela vadia faz isso com ele? Por que ela gosta tanto de mexer com seus sentimentos?

Clóvis Constantino sentia-se uma bichinha enrustida, mas a tristeza que ele sentia pesava muito em seu coração. Seu coração agora tão ferido, sangrando nas mãos daquela puta má. Mas ele não podia deixar-se vencer, não podia sucumbir aos desencantos do amor. Não, não agora que sua carreira começava a progredir. Entrou em seu Audi R8 5.2 FSI preto engolindo o soluço e retendo as lágrimas.

A tristeza deu lugar ao ódio. Então Clóvis Constantino agarrou o volante, deixando os nós de seus dedos brancos. Ligou o som na rádio local. A música que tocava o levou aos seus velhos e áureos, tempos esses em que nada o abalava: 

A música mexeu com ele. Sentia falta de emoção. Emoção positiva. Adrenalina. Sentindo-se um personagem de Velozes e Furiosos, pisou com toda a sua força no acelerador. A rua estava fria e deserta, e agora era invadida pelas luzes azuis de seu carro. Clóvis Constantino não sabia para onde ir, apenas deixava-se ser guiado pelas placas amarelas ao longo da estrada. Agora mais calmo, observava a paisagem passar rapidamente pelos vidros de seu carro quando, de repente, avista algo no meio da estrada. Um carro! Ele freia. Mas não a tempo de impedir que os carros choquem-se.

Seus olhos fechavam-se com sua vontade, ele sentia-se leve, caindo. O que parecia horas era, na verdade, segundos. Clóvis Constantino estava bem, já seu carro não. Abriu a porta deste e saiu. O cenário em que encontrou-se era assustador: árvores retorcidas e nuas tinham as raízes cobertas pela névoa densa e assustadoramente imóvel. Podia ouvir animais correndo sobre as folhas secas da floresta e pássaros pousando nos galhos secos para acompanhar sua desgraça. Viu-se sozinho e quase cagando em seu shortinho de ginástica.

Suava frio, sua pele estava branca e gelada e suas pupilas dilatadas. Queria sair dali. Então avistou uma sombra alta e corpulenta mexendo-se entre as árvores. Uma figura negra vindo em sua direção. Agachou-se com os braços sobre a cabeça, cerrando os olhos e torcendo para que tudo aquilo fosse uma visão.

- Você está bem? - perguntou a voz grave e rouca, estranhamente familiar. Está tudo bem, não vou te machucar.

Clóvis Constantino reuniu toda a sua coragem, desarmou-se de seus braços e encarou o homem à sua frente.

- Sr. Smith? O que faz aqui? - gritou Clóvis Constantino com uma voz fina e levemente abafada, misturando espanto e alívio.
- Estava apenas correndo, gosto deste lugar.
- Não está um pouco escuro para isso? E... com essa... roupa?

Clóvis Constantino, agora já de pé, olhava com estranheza as vestes de seu chefe: uma camisa amarelo-neon da Nike, um short de lycra branco e um tênis branco absurdamente feminino. Além de uma faixa rosa na cabeça. Ah, esse é o verdadeiro Smith, pensava Clóvis Constantino.

- Bem, você me conhece... - respondeu Sr. Smith em tom de deboche. Você sempre me conheceu muito bem...

As narinas de Clóvis Constantino foram invadidas por um cheiro que o fez sentir-se estranho. Era um cheiro com notas másculas cavalares. Aquele cheiro... Seus olhos reviraram-se, sua pele arrepiou-se, seu pensamentos começavam a dar espaço a uma onda de... Ei, Clóvis, está tudo bem? - perguntava novamente Sr. Smith, pousando sua mão negra, grande e pesada nos ombros do rapaz.

- Ah, desculpe-me... Acho que estou cansado, só isso.
- Aconteceu alguma coisa?
- Como assim? Acabei de bater meu carro, até há pouco estava prestes a parir um ornitorrinco de tanto medo! É claro que aconteceu alguma coisa!
- Acalme-se, Clóvis. Está tudo bem agora - e Sr. Smith agora falava com uma voz suave enquanto trazia o corpo de Clóvis Constantino de encontro ao seu. Está tudo bem agora...

Clóvis não queria, mas entregou-se. Um mar de emoções formava-se em seu peito, estava abatido demais para resistir. Queria um abraço, apenas isso. Seus últimos dias foram difíceis desde que conheceu Cassandra Cacilda. Cassandra Cacilda, aquela meretriz ordinária! Não queria mais pensar nela. Queria apenas dormir.

- Olha, Sr. Smith, respeito muito o senhor, mas isto está ficando estranho - disse Clóvis recobrando a lucidez emocional.
- Não tenha medo, pequeno. Quero apenas que você acalme-se. Você está tremendo, e está muito gelado! Precisa de roupas quentes... Mas vejo que seu carro não está em condições de uso. Permite-me oferecer uma carona até a sua casa?
- Vejo que o senhor tem razão. Tudo bem, aceito a carona. Só não entendo com seu carro pode ter saído inteiro desse acidente.
- Ora, Clóvis, você é um amador - Sr. Smith disse-lhe rindo e dirigindo-se ao carro. Agora entre, amanhã veremos o que fazer com a sua lata.

Clóvis Constantino nem ouviu as palavras de Sr. Smith, apenas acomodou-se no bando do carona esperando chegar logo em casa.

Alguns minutos passaram até o Sr. Smith parar o carro em frente ao prédio de Clóvis Constantino.

- Bem, acho que é aqui.
- Muito obrigado, Sr. Smith - Clóvis Constantino respondeu enquanto saia do carro. Meio cambaleante, ainda tremendo por causa do susto.
- Vejo que você ainda não está muito bem... Acompanhar-te-ei até seu apartamento.
- Não é preciso, Sr. Smith, estou bem!
- Não é o que parece, meu amigo. Suas pernas estão bambas, irá cair e rolar as escadas como uma salsicha branca.

Sr. Smith saiu do carro e pegou Clóvis Constantino pela cintura e segurando um de seus braços, ajudando-o a andar e ignorando suas recusas.

Foram assim até o elevador. Agora mais estável, Clóvis Constantino disse que já pode ir sozinho até seu apartamento.

- Claro que não! Você ainda não me parece bem, faço questão de certificar-me de que você chegará em casa inteiro!

O elevador subia e os dois, em silêncio, observavam a vista. Um bipe anunciou a chegada ao andar de Clóvis Constantino.

- Cadê suas chaves? Deixar-te-ei deitado, você não está conseguindo andar.

Clóvis Constantino estava tão cansado que nem se deu ao trabalho de relutar, apenas entregou-lhe as chaves e fechou os olhos esperando sentir os lençóis macios de sua cama. Pôde ouvir a porta ser aberta, as luzes de sua sala serem acesas e, finalmente, seu corpo ser deitado em sua confortável cama. Abriu os olhos e viu que o Sr. Smith o observava. Sentiu algo estranho. Não sabia muito bem o que era, mas era forte. Medo, talvez.

- Muito obrigado novamente, Sr. Smith. Devo-lhe alguns favores, não é? - foi o que Clóvis Constantino conseguiu dizer. Sua voz estava fraca, e ele sentiu então a tristeza voltando. Mesmo assim, sorriu para o homem encostado na parede.
- Claro que não, rapaz. É um prazer ajudar meus funcionários. A não ser, é claro, que você queira ser algo além disso... - respondeu com uma voz sensual o Sr. Smith, empinando o queixo e encarando-o com uma poker face.

O silêncio tomou o quarto.

- Sabe, Clóvis Constantino. Eu vinha há algum tempo tentado reencontrá-lo. Sinto sua falta, você não sabe o quanto. Sonhava todas as noites com você, esperando poder sentir seu cheiro outra vez. Oh, Clóvis Constantino, você não pode imaginar a dor que senti ao te ver ao lado daquela mocréia com boca de truta. E vejo que você também sente minha falta, posso ver em seu olhar, Clóvis Constantino... Diga que sente minha falta, Clóvis Constantino, diga!

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