6 de set. de 2010

Capítulo VI

Clóvis Constantino, conhecendo muito bem aquele homem e suas condições, não quis discutir:
- Tudo bem, servir-te-ei café descafeinado... – e com cara de desprezo saiu da sala, ignorando as ordens de Mr Smith.

Agora só faltava começar seu curso de Oceanografia. Já havia resolvido tudo pouco antes de vir ao escritório da Restart: conseguiu uma universidade mulambenta, não precisou de muito esforço para entrar. Apenas uma conversinha rápida com a secretária gorda, de sorriso amarelado pelo cigarro e as pernas cabeludas...
Clóvis Constantino foi para casa vitorioso.

Já Cassandra Cacilda, algumas horas depois do seu acidente, abria os olhos lentamente. A luz que agora batia em seu rosto a deixara cega por alguns instantes. Sua cabeça doía, ela sentia suas roupas molhadas. Finalmente conseguiu levantar uma das mãos e leva-la à cabeça. Ela sentiu o sangue já seco em seus cabelos. O que aconteceu comigo?, pensava ela. Ficou deitada por algum tempo. Para ela pareceram alguns minutos, mas se foram quase duas horas desde que ela acordara.

Não conseguia se mexer, precisava de ajuda. Clóvis Constantino! Ela lembrou-se da noite selvagem que tiveram, todas aquelas cenas libidinosas vindo à tona em sua cabeça ferida... Então chamou por Clóvis Constantino. Chamou e chamou. Não obteve resposta, novamente. Sua voz fraca e seus gemidos de dor ecoavam pelo apartamento vazio. Agora, entrara em desespero. Teria Clóvis Constantino a abandonado? Mas por quê? Vergonha do que passaram? Ou seria o medo do apetite voraz da moça? Cassandra Cacilda apavorou-se. Sua sede de amor havia afastado dela seu par perfeito, o homem de sua vida, o Edward da sua Bella. Parou de gritar o nome de seu amado para dar espaço aos soluços, choros e gemidos. Ela voltou a ser o que era antes: uma pervertida, uma ninfomaníaca, uma bitch.

Cassandra Cacilda estava fraca, mas já conseguira levantar-se a ponto de ficar sentada, apoiado ao balcão da pia. Parou de chorar, estava com raiva de si mesma. Queria morrer ali e agora, mas não sem antes encontrar Clóvis Constantino e dar-lhe um último beijo. E outras coisas mais, se possível. Oh não, os pensamentos libidinosos. Estes pensamentos que a perseguiram por toda a sua vida. Não podia mais deixar-se levar por eles. Precisava de tratamento. Gritou mais um pouco por socorro, tinha fome e sede, sua cabeça latejava. Por fim, adormeceu novamente.

A noite passou e Clóvis Constantino já estava preocupado com Cassandra Cacilda. Por que ela ainda não havia ligado para ele? Não queria pensar muito. Apenas agarrou seu telefone e ligou para o apartamento de sua amada. O telefone tocou três vezes. Quatro. Cinco. Oito. Cassandra Cacilda não iria atender. Afinal, ela estava dormindo.

Clóvis Constantino ficou apreensivo, ligou mais duas vezes. Ela não atendeu. Decidiu não incomodá-la, seja lá o que estivesse fazendo. “Deixei-lhe um bilhete, não deixei? Ela, então, deve saber que eu não a abandonei... Está segura, tenho certeza. Deve estar trabalhando, ou apenas cansada”, pensava Clóvis Constantino, numa tentativa de afastar os pensamentos dramáticos de sua cabeça. Não pensaria em Cassandra Cacilda, alimentaria a ansiedade das surpresas até não poder mais.

Clóvis Constantino precisava dormir. Amanhã inicia a sua nova vida.
O dia amanheceu junto com a expectativa de Clóvis Constantino. Este levantou-se da cama em um pulo, estava decidido a impressionar todos que trabalham naquele escritório. Ligou a TV, o canal era a MTV, o programa era o LAB Freak, a música era a mais sugestiva o possível:

Abriu seu armário e escolheu suas melhores roupas: uma camisa social rosa com riscas pretas, uma calça jeans da Colcci manchada nas pernas como se tivesse derramado refrigerante e bordado no bumbum em letras garrafais a palavra sexy, além de um sapato oxford em couro branco. Vestiu-se em frente ao espelho, observando seu corpo com volúpia. Sentia-se poderoso. Fez um topete deixando os cabelos espetados usando seu sempre amigo gel para cabelos Bozzano. Escolheu sua melhor colônia Avon. No pescoço, seu crucifixo de ouro. Mais glam e arrasante impossível. Mas ainda faltava alguma coisa. Claro!, ele sabia muito bem o que faltava: desabotoou os três primeiros botões da camisa, deixando saltar os pêlos másculos do peito e levantou a gola. Agora sim.

Admirou-se ao espelho mais uma vez. Fez pose de badboy e, com uma piscadela e um sorriso malicioso, disse para si mesmo “Vai, gostoso!”. Seu estado de espírito dizia “Licença para arrasar”.

O dia promete.

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