23 de dez. de 2010

Capítulo X

Tanto queria que o fez. Foi um beijo longo e ardente, iluminado pelos primeiros raios de sol. Suas faces avermelhadas pela aurora que pintava o mar de cores quentes deixavam a cena com um aspecto erótico, acentuado pela neblina de começo de manhã. O beijo parecia ter durado décadas, até séculos, mas na realidade não passou de um minuto. 

- O minuto mais feliz da minha vida - disse o Sr. Smith.

Clóvis Constantino, atordoado por toda a emoção injetada em suas veias dilatadas pelo calor do momento, caiu ao lado do Sr. Smith, no capô, em silêncio. Apreciando a bela vista à sua frente, pensava em Cassandra Cacilda. Onde ela estaria agora? Será que está bem? Será que sente sua falta? Clóvis sentia falta de Cassandra Cacilda, de seu corpo de mulher, de sua pele branca e macia, seu cheiro de fêmea indefesa, seus cabelos tingidos jogados timidamente sobre seu rosto. O jeito como ela respirava... Oh, adorava vê-la dormindo, observar sua leve respiração. Beijá-la segurando-a pela cintura era sua maior felicidade. Mas ele acabara de beijar o Sr. Smith! Como pêde atrever-se a pensar em Cassandra Cacilda tendo ao seu lado aquele negro de pernas e braços fortes, cabelos raspados e lábios volumosos, que agora, entreabertos, deixavam escapar o ar que entrava com força em seus pulmões tamanho o êxtase em que se encontrava?

Cassandra Cacilda! Clóvis Constantino precisava encontrá-la, dizer-lhe o quanto a ama. Levantou-se e ordenou que Sr. Smith entrasse no carro. Entraram e partiram. Clóvis Constantino pisava no acelerador e mandava que Sr. Smith calasse-se sempre que este tentava dizer-lhe o quanto o beijo fora incrível. Chegando na casa de Sr.Smith:

- Saia do carro - ordenou Clóvis Constantino.
- Mas por quê?
- Apenas saia!

Sr. Smith saiu com o rabo entre as pernas, não entendendo a frieza que agora instalara-se nos olhos lindos e profundos de Clóvis Constantino. Ao fechar a porta do carro, Clóvis arrancou estrada adentro, sem despedir-se, sem dar-lhe esperanças de um próximo encontro. 

Chegando na cidade, parou em uma Wal-Mart. Tinha planos para Cassandra Cacilda, e efetuaria-os esta noite. Entrou e foi direto para a banca de bijuterias. 

- Um anel. Rosa! Com pedras rosas- pediu à moça que o atendia com cara de sono. 
- Tenho somente este - disse ela, mostrando um anel folheado com ouro e incrustado com uma pedra de vidro rosa barato. 
- Quero este mesmo.
- 27,99 reais, mais alguma coisa?
- Esse pote de lubrificante aí.

Pegou suas compras e foi para o carro. Queria encontrar Cassandra Cacilda o mais rápido possível, tinha saudades de sua fêmea insaciável. Mas tinha fome. Não fome de Cassandra Cacilda, mas fome física, que fazia seu estômago roncar em um gutural sinistro. Decidiu parar em um McDonalds no caminho.

Após comer, foi para seu apartamento. Precisava organizar suas idéias, tomar um banho e descansar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário